Equidade e Maternidade no Mundo Corporativo

Um ditado popular nos ensina que “a palavra convence, mas o exemplo arrasta”. Nesse sentido, precisamos repensar o papel da mulher no mundo corporativo. Uma pesquisa recente divulgada pela Catho (2025) revelou que 60% das mães estão fora do mercado de trabalho.

Apesar dos avanços tecnológicos e científicos, ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar a equidade de gênero na prática. Por exemplo, apenas 15% dos profissionais ouvidos pelo estudo afirmaram que suas empresas possuem programas específicos com esse propósito. Além disso, 36,9% relataram resistência das lideranças à contratação e promoção de mães e gestantes.

Como profissional da governança, atuo junto às empresas com uma agenda que contempla programas de equidade, diversidade e inclusão. Mudar valores é um desafio, mas, como disse Fernando Pessoa, “tudo quanto vive, vive porque muda”. Devemos encarar essas transformações socioculturais contratando mulheres, desmistificando a maternidade e mostrando que ela não é um fator limitador, e sim um diferencial.

Podemos nos inspirar em exemplos de países como Islândia, Estônia, Alemanha, Canadá e Nova Zelândia, onde a criação dos filhos se tornou uma responsabilidade familiar compartilhada. Esse avanço exige a implementação de políticas públicas que deem o respaldo necessário às famílias, como licença parental para casais, benefícios na saúde e educação, e a diminuição na jornada de trabalho.

A governança corporativa é uma aliada importante nesse processo. As organizações que adotam essa abordagem passam a observar as mães sob uma nova perspectiva, compreendendo que a maternidade pode expandir seu potencial criativo e produtivo. Os investimentos em programas de diversidade fortalecem a cultura da empresa, melhoram sua imagem perante os stakeholders e potencializam seu rendimento e lucratividade.

É preciso ir além das homenagens no Dia das Mães e promover mudanças efetivas. Para isso, devemos nos perguntar: Quais ações em prol de mulheres e mães posso implementar agora na minha empresa familiar?

O lugar de mulheres e de mães é na escola, na universidade, nos cargos de liderança, como parlamentares, executivas e CEOs, em condições de equidade com os homens. Essa realidade só será possível por meio de ações concretas, como processos seletivos baseados em competências e sem perguntas de cunho pessoal, como sobre ter ou não filhos.

Também é fundamental desenvolver políticas de licença maternidade e paternidade flexíveis, programas de apoio após a licença (com retorno gradual, horários flexíveis, trabalho híbrido e suporte para adaptação), e criar espaços de amamentação ou extração de leite e creches. Assim, as mulheres podem planejar a maternidade sem abandonar suas carreiras.

Os benefícios dessas mudanças se estendem às mulheres, às crianças e suas famílias, às empresas e à sociedade como um todo. Este é um trabalho coletivo, que demanda esforço e investimento de governos, empresas e sociedade. Aliás, o maior presente que poderíamos oferecer às mães é respeito, acolhimento e valorização. Que o mês de maio seja para expandir esse cuidado!

Cristhiane Brandão, Conselheira de Administração, Consultora em Governança para Empresas Familiares e Vice-Coordenadora Geral do Núcleo Centro-Oeste do IBGC.

Seja uma empresa que apoia a maternidade

Seja uma empresa que apoia a maternidade

Estamos na semana do Dia das Mães, mas, longe de ser uma data meramente comemorativa, precisamos refletir sobre o papel da mulher e da maternidade no cenário atual do mercado de trabalho. Apesar de todos os avanços tecnológicos e científicos, continuamos distantes de viver na prática a equidade de gêneros.

Para a maioria de nós, a primeira palavra que vem em mente quando falamos da nossa mãe é “guerreira”. Porém, precisamos retirar urgentemente esse peso “heroico” do colo das mulheres por meio de políticas públicas e práticas empresariais que garantam uma rede de proteção adequada ao exercício pleno e saudável da maternidade. Afinal, o lugar das mães é onde elas quiserem!

Há exemplos de países, como Islândia, Estônia, Alemanha, Canadá e Nova Zelândia, onde a criação dos filhos se tornou uma “configuração familiar”, ou seja, não é mais um papel restrito à mulher. Entre as políticas de apoio à família estão licença parental para casais de até um ano, incluindo homoafetivos e outras configurações, benefícios na saúde, na educação, e alguns países já implementaram a jornada de trabalho de 4 dias.

No Brasil, Boticário, Natura e Nestlé estão entre as empresas que estão na vanguarda de ações como essa, que colocaram em prática licença-maternidade de até 6 meses e licença parental de 40 a 120 dias, auxílio-creche ou babá, além de horários flexíveis e intervalos para a amamentação. A Lei 14.457/2022 visa ampliar essas mesmas regras – e outros benefícios – para todas as empresas ao instituir o Programa Emprega + Mulheres.

Valorizar as mães significa oferecer perspectivas de carreira dentro da empresa após o retorno da licença-maternidade. Gigantes como a Magalu estão com consultoria para auxiliar a implantar uma agenda voltada à “maternidade”, pois entenderam que, com o nascimento dos filhos, as mulheres expandem seu potencial criativo e produtivo e é um grande desperdício que 48% delas interrompa sua carreira (FGV, 2016).

Aliás, não faz muito sentido que, mesmo representando 52,1% da população, o que equivale a quase 5 milhões a mais que os homens (IBGE, 2021), as mulheres continuem enfrentando disparidade nos salários dos homens. Um estudo feito no ano passado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) revelou que, mesmo com nível de escolaridade mais avançado, elas ganham em média 37% menos. Outra realidade que precisa mudar.

Sou mulher, mãe de dois filhos, casada, empresária e enfrentei na própria pele as adversidades referentes a esse tema que me sensibiliza, porque, de fato, a maternidade não deveria ser um “atrapalhador” para os nossos planos e projetos. Uma mulher não se torna menos por ser mãe, aliás, ela melhora muito todos os seus atributos naturais que envolvem negociação, escuta, habilidade de gestão de pessoas, criatividade e execução de tarefas. Eu me tornei muito melhor com a maternidade.

No entanto, em um cenário de injustiças, incertezas, medos e não-valorização do potencial das mulheres, aliado a outros problemas estruturais das empresas que ainda não estão preparadas para entender e valorizar o universo feminino, acabamos que elas costumam ser demitidas ou pedir demissão após a licença-maternidade. Na grande maioria das vezes, elas não contam com uma rede de apoio para se manterem firmes no seu propósito de serem mães e serem profissionais dedicadas.

Então, quando vejo dados sobre o aumento substancial de mulheres como donas do próprio negócio – “Número de empreendedoras no Brasil cresce e chega a 10,3 milhões” (Sebrae, 2023) – sinto um aperto no coração. Não é que não esteja vendo o lado positivo da notícia, mas por fazer a leitura que está por trás dos dados: a exclusão do mercado tem “empurrado” as mães para o empreendedorismo.

Nós sabemos que as mudanças culturais são sempre desafiadoras e demoradas, mas, observamos que só há um jeito de fazer acontecer, que é colocando em prática, ou seja, contratando mulheres justamente porque elas engravidam e com isso desmistificando a maternidade. Ao contrário de ser um fator limitador, ser mãe é um combustível na vida das mães, desde que elas tenham o apoio necessário, claro.

Falar em agenda positiva, em desenvolvimento econômico e sustentável, passa necessariamente pela equidade de gênero. Quero convidá-lo a refletir sobre a valorização da parentalidade nos espaços corporativos. Como você tem trabalhado isso na prática da sua empresa ou corporação? Quais ações de valorização de mulheres e mães você pode fazer agora?

 

Cristhiane Brandão, Conselheira de Administração, Consultora em Governança para Empresas Familiares e Coordenadora do Capítulo Brasília/Centro Oeste do IBGC.