ESG
Mudanças climáticas: um chamado para empresas familiares
Apesar de 95,4% da população brasileira afirmar que tem consciência sobre as mudanças climáticas, conforme pesquisa deste ano do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), é inegável que ainda há muito o que ser feito para que segurança climática, alimentar e energética possam caminhar juntas.
Voltei muito sensibilizada após participar do Global Agribusiness Festival (GAFFFF), o maior festival de cultura agro do mundo, realizado entre 27 e 28 de junho, em São Paulo. Estar presencialmente me deu uma visão sustentada sobre o que está em causa, os obstáculos e os desafios que temos pela frente.
Nos últimos anos, as mudanças climáticas têm se manifestado de maneira cada vez mais evidente e severa ao redor do mundo: com aumento das temperaturas, eventos extremos [como as enchentes no Rio Grande do Sul, furacões, tsunamis e secas] e a acidificação dos oceanos, que são sinais alarmantes de um planeta em transformação. Há estudos que mostram que as áreas tropicais do planeta se tornarão desertos (isso inclui o Brasil!) e que os “novos cerrados” estarão em países como Canadá e Rússia.
Além de afetar os ecossistemas naturais, tais fenômenos exercem forte impacto sobre as populações ao redor do mundo. Outro ponto importante é a segurança alimentar, já que as mudanças climáticas atingem diretamente a produção agrícola, alterando padrões de chuva, disponibilidade de água e condições de cultivo o que pode levar a uma diminuição na produção de alimentos, o que pode resultar em mais fome em localidades vulneráveis.
Em relação à segurança energética, embora nossa matriz energética seja a mais limpa do mundo (segundo a AIE – Agência Internacional de Energia), temos uma missão de ajudar o planeta colaborando com a produção de biocombustíveis e etanol, e no fomento de políticas de estímulo ao uso dos mesmos, inclusive internacionais, o que contribuirá diretamente para a redução do consumo de combustíveis fósseis.
Nesse contexto, empresas familiares, como agentes econômicos e sociais, desempenham um papel crucial na adaptação e mitigação desses impactos. Então, a questão é como o seu negócio poderá minimizar impactos e perenizar para as próximas gerações, sem “legados negativos”?
Para enfrentar os desafios que temos pela frente de maneira eficaz, é essencial alinhar segurança climática, alimentar e energética, já que as três dimensões estão intrinsecamente conectadas e suas soluções complementares podem fortalecer a resiliência global. No livro Gigante pela Própria Natureza, Miguel Setas destaca que o destino da Terra depende de nós e que isso exige adotar uma visão estratégica “estrábica”: um olho no curto prazo e outro no longo prazo (longo mesmo!).
Em 2050, seremos 10 bilhões de pessoas na Terra… e o Brasil pode ser o hub climático do mundo, a partir do seu lugar no mercado internacional de carbono, da sua agricultura sustentável, da produção de energia renovável em grande escala e da indústria verde.
Vale a pena destacar que a inovação tecnológica desempenha um papel crucial no enfrentamento às mudanças às climáticas, desde técnicas agrícolas de conservação até sistemas avançados de armazenamento de energia, há um vasto campo para o desenvolvimento de soluções que promovam a segurança climática, alimentar e energética. “É um novo papel e chance única de progresso verde para o Brasil, nesse mundo em transformação”, afirma Setas.
Outro ponto importante é investir em educação e conscientização com o intuito de sensibilizar o maior número possível de pessoas sobre a importância da sustentabilidade, que vai além de proteção ao meio ambiente, pois compreende modelos econômicos que permitam o equilíbrio econômico, social e ambiental.
Como podemos ver, esse é um desafio global sem precedentes, que significa um “chamado”, sobretudo para as empresas familiares, que podem atuar como catalisadoras de mudanças culturais e comportamentais que promovam um futuro mais sustentável, já que são frequentemente vistas como pilares das suas comunidades.
Mais do que mitigar os riscos, essas empresas podem fortalecer e multiplicar as oportunidades de crescimento sustentável em longo prazo. O futuro do nosso planeta está em jogo e cabe a todos nós assumir uma responsabilidade intergeracional, pensando que aquilo que se decide hoje propaga o futuro com suas implicações… Qual legado você, sua família empresária e sua empresa familiar estão construindo HOJE?
Cristhiane Brandão, Conselheira de Administração, Consultora em Governança para Empresas Familiares e Coordenadora do Capítulo Brasília/Centro Oeste do IBGC.
O que aprender com a tragédia no Rio Grande do Sul?
Na maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul, ao menos 171 pessoas perderam a vida e 2,34 milhões foram afetadas direta ou indiretamente em pelo menos 475 municípios atingidos, entre elas, 37,8 mil estão alojadas em abrigos, segundo informações da Agência Brasil. Como profissional que atua com Governança, quero abrir espaço para algumas reflexões.
Obviamente, neste momento de sofrimento e incertezas, temos colhido lições valiosas de solidariedade e cooperação, que conseguiram ultrapassar as barreiras políticas dos últimos anos e que tinham dividido o Brasil entre norte e sul, direita e esquerda, cristãos e não cristãos. Tudo isso já representa um avanço para a reconstrução não só do estado gaúcho, como do próprio país.
Nesta semana em que celebramos o Dia do Meio Ambiente, quero deixar algumas questões que considero fundamentais para o despertar da consciência: Você, em algum momento, refletiu sobre os efeitos do nosso atual padrão de consumo nas mudanças climáticas? Como empresário, desenvolve ações que visam incorporar melhores práticas de gestão voltadas ao meio ambiente, à responsabilidade social e à diversidade?
A humanidade já realizou muitos feitos extraordinários e se considera superior em relação às demais espécies. Mas será que esse “capitalismo fóssil” não tem colocado um sobrepeso insustentável dos recursos e equilíbrio do planeta? Temos recebido muitos sinais da natureza e da sociedade de que ainda há muito a se fazer…
Falar em ESG é, sim, extremamente necessário para destacar a importância e a urgência na mudança de “mentalidade” de todos nós, empresários, consumidores, gestores públicos, políticos, educadores, enfim, todo conjunto da sociedade, para as transformações estruturais nas diversas áreas e que vão garantir a manutenção não só dos negócios e da renda das famílias, como da vida no planeta!
A sigla em inglês diz Environmental, Social and Governance, ou Ambiental, Social e Governança (em português) consiste em um conjunto de critérios que avalia o desempenho das organizações em relação à sustentabilidade e à responsabilidade social. O “E” do ESG traz para os negócios a preocupação ambiental, avaliando o impacto que a empresa gera no meio ambiente e a sustentabilidade de suas operações em alinhamento com metas globais.
Quando colocamos nesse contexto as empresas familiares, de modo geral, podemos dizer que o ESG estabelece uma forte relação com o legado e a finalidade das famílias empresárias, o que sem dúvida significa uma vantagem competitiva. Inevitavelmente, as famílias desenvolvem uma visão de longo prazo e se preocupam em perpetuar o legado social. Outro ponto relevante é que diversidade e sustentabilidade são mais valorizadas pelas novas gerações de herdeiros, o que poderá gerar conflitos que, se não forem trabalhados, poderão impactar o negócio.
Quando focamos no “remédio” sustentabilidade, estamos na busca do equilíbrio entre o suprimento das necessidades humanas e a preservação dos recursos naturais, não comprometendo as próximas gerações e atentando ao tripé econômico, social e ambiental. E essa abordagem não deve ser segmentada, e sim, sistêmica e com perspectiva intergeracional.
Precisamos urgentemente estudar e aprofundar uma nova ética da vida na Terra: “uma ética de amor à vida em todas as suas formas existentes”, como propõe Miguel Setas, em seu livro “Gigante pela própria natureza”. Inevitavelmente, isso nos confronta ao paradoxo de ter um modelo de desenvolvimento galgado na expansão contínua e “infinita” dos negócios e do crescimento econômico sem ligação à natureza como algo muito perigoso.
Ao analisar dados, observamos que a sociedade entende a importância desse movimento. Um levantamento realizado, em 2022, pela consultoria Grant Thornton, com 255 empresas brasileiras, constatou que 95% dos empresários consideravam importante reduzir a emissão de gás carbônico, gerar energia limpa e adotar esforços contra o desmatamento, porém, apenas 54% delas pretendiam investir em projetos ligados à ESG nos próximos 12 meses; e somente 39% tinham plano estratégico com abordagem ambiental, social e de governança.
Outro estudo feito pela consultoria Korn Ferry (Tendências de RH 2023), divulgado no ano passado, obteve resultados similares, mostrando que 67% das empresas no Brasil adotaram o ESG como pilar estratégico, enquanto 33% ainda não o fizeram. Também observaram que 75% das empresas planejavam colocar em prática ações ESG nos próximos 12 a 18 meses, enquanto 25% não tinham essa intenção.
Voltando ao Rio Grande do Sul, me deparei com opiniões de especialistas mostrando que os eventos climáticos extremos, intensificados pelo fenômeno El Niño, como ondas de calor e chuvas fortes, têm sido frequentes no sul do país, e que houve uma série deles nos últimos meses e anos. Inclusive, uma grande enchente aconteceu em setembro de 2023 como prenúncio da catástrofe deste ano, mas, mesmo com a água batendo (literalmente) à porta, nada foi feito.
Sou uma “realista esperançosa”, acredito que temos conhecimento, recursos e tecnologia suficientes para mudar a rota do planeta e da humanidade. Por isso, neste 5 de junho, dê um presente para seu futuro e dos seus, comece com ações pequenas em casa e na empresa que foquem em mudar a forma de pensar, sentir e fazer negócios! Avante!
Cristhiane Brandão, Conselheira de Administração, Consultora em Governança para Empresas Familiares e Coordenadora do Capítulo Brasília/Centro Oeste do IBGC.
Cuiabá, terra rica em afeto e oportunidades
A minha história se entrelaça à trama de amor que construí por Cuiabá nos últimos 40 anos. Imagine a felicidade em chegar aqui aos 9 anos de Santos (SP), depois de ter passado por várias cidades do sul e sudeste, para finalmente “fincar raízes”. Como tantos outros “paus rodados”, nossa família havia encontrado nesta terra o que mais almejava: oportunidades!
Posso escrever páginas e páginas sobre tudo que aprecio na nossa cidade que completa, neste 8 de abril, mais um ano de vida. Mas o que realmente sinto desejo de fazer, neste momento, é uma longa reverência à esta incrível “senhora” que chega aos 305 anos sóbria, cheia de história e cultura, porém com a mente tão aberta, receptiva e cosmopolita.
Aqui, o calor ultrapassa barreiras climáticas e se estende a um gigante coração de mãe, onde sempre cabe mais um, onde sempre há um “jeitinho” de fazer dar certo, onde nos sentimos acolhidos. Desde a descoberta por Miguel Sutil e fundação por Pascoal Moreira Cabral, lá em 1719, Cuiabá sempre teve essa peculiaridade, fazendo jus à sua localização bem no coração da América do Sul.
Um levantamento feito pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap), em parceria com a Endeavor Brasil, que mediu as 101 cidades mais populosas do país, apontou Cuiabá entre as 10 melhores cidades brasileiras para empreender. Além disso, em dezembro de 2023, o IBGE divulgou um estudo que colocou a cidade em 7ª colocação no ranking do PIB per capita, apontando o aumento da sua riqueza.
Os números mostram que longevidade e crescimento andam juntos em Cuiabá, uma cidade que se mantém viva e em pleno movimento de expansão. Apesar dos inúmeros desafios cotidianos, é inegável o avanço nos últimos 10 anos em todas as áreas: econômica, política, estrutural, social e cultural, o que gerou reflexo positivo no mundo dos negócios, entre eles, a adesão de muitas empresas à governança.
Independente de ter nascido ou não aqui, é comum ouvirmos a expressão “cuiabano de coração”, porque é exatamente assim que muitos de nós, que viemos de fora, se sentem ao falar da cidade. Morar em Cuiabá é sentir que “faz parte”. Esse sentimento de pertencimento é algo notável entre as famílias empresárias tradicionais que tive a honra de atender e que me ensinaram o valor das próprias raízes na busca pelo sucesso.
Nos congressos e cursos que tenho feito pelo IBGC, tem se tornado cada vez mais raro encontrar membros da família atuando diretamente na gestão da empresa. Hoje, eles preferem estar na posição de conselheiros e/ou acionistas, mas, em Cuiabá, acontece o contrário, as empresas preferem que filhos e netos deem continuidade ao legado de forma executiva. Além disso, elas são reflexo de muita dedicação (até mesmo devoção) ao negócio.
Outra característica instigante em Cuiabá é que diariamente temos acesso a figuras públicas com notório saber, seja em programas de televisão ou de rádio. Pessoas como o jornalista Onofre Ribeiro, que compartilham conosco conhecimento em política, economia, meio ambiente e tantos outros temas complexos, fazendo-os parecer simples. Quanta riqueza!
Somos ainda um berço de grandes artistas, uma terra que transpira musicalidade, arte, artesanato, onde nasceram grandes empresas e instituições como a União Nacional do Etanol do Milho (Enem), com sede em Cuiabá, mas abrangência em todo Brasil e no mundo. Outras organizações da cadeia produtiva do agronegócio vêm trilhando esse mesmo caminho (quem bom!).
Claro que nem tudo são flores neste caldeirão multicultural. Há alguns anos, li um livro que me despertou para a importância de respeitar a cultura cuiabana para além do olhar turístico. Descolonizar o nosso olhar. Para tanto, temos que estar atentos as falas preconceituosas que ligo o povo cuiabano a “vadiagem” ou a “preguiça”.
Hoje, mais do que nunca, é compreensível o hábito de tirar a sesta após o almoço ou até se sentir menos disposto vivendo em condições climáticas inóspitas, como tem sido o calor de Cuiabá que bateu o recorde de cidade mais quente do país (e do mundo) várias vezes no ano passado. O calor realmente afeta a saúde, sobretudo de crianças e idosos.
Quero terminar minha homenagem dizendo que quem julga não tem tempo para amar. Então, que possamos deixar de lado o que nos separa, para construir um futuro juntos, mais um ciclo de prosperidade, desta vez, valorizando o verdadeiro ouro dessa terra, que é a sua natureza exuberante e as pessoas que aqui vivem. Viva Cuiabá! Nós te amamos!
Cristhiane Brandão, Conselheira de Administração, Consultora em Governança para Empresas Familiares e Coordenadora do Capítulo Brasília/Centro Oeste do IBGC.
“Negócios verdes” fortalecem legado familiar
“Negócios verdes” fortalecem legado familiar
Nas duas últimas décadas, temos observado uma crescente preocupação mundial com o tema sustentabilidade. A ‘economia verde’ surgiu nesse contexto como uma alternativa promissora principalmente para empresas familiares que desejam prosperar e ao mesmo tempo contribuir com a conservação ambiental.
Dentre as 100 empresas mais sustentáveis do mundo (Relatório Corporate Knights 2022), o Banco do Brasil se destaca, por exemplo, pelo uso pioneiro de energia solar. Em Minas Gerais, foi construída uma usina capaz de gerar 14 GWh para abastecer 100 agências do banco, uma economia de R$ 80 milhões em 12 anos.
Outra empresa que aparece na lista é a Natura que possui 80% de seus produtos de origem vegetal e a matéria-prima retirada da Amazônia. Ao invés de utilizar polietileno convencional em suas fórmulas, usa polietileno verde feito à base de cana-de-açúcar o que reduz os impactos ambientais. Além disso, os novos produtos visam reaproveitar garrafas PET, diminuir a produção de papel e de plástico.
Sei que você pode estar pensando que não tem como se comparar às grandes empresas como Banco do Brasil ou Natura, que dispõem de conhecimento e recursos para fazer os investimentos necessários para implementar todas essas mudanças positivas para o planeta. Mas quero deixar um convite: vamos encarar a “economia verde” como uma oportunidade de inovar e se diferenciar no mercado?
Um exemplo positivo vem de Mato Grosso, a Cervejaria Louvada acaba de celebrar a conquista do Certificado Lixo Zero, demonstrando seu compromisso em reduzir resíduos ao máximo e a adoção de práticas sustentáveis em todas etapas de produção. O conceito de lixo zero “é uma meta ética, econômica, eficiente e visionária, para orientar as pessoas a mudar seus estilos de vida e práticas para emular ciclos naturais sustentáveis, onde todos os materiais descartados são projetados para se tornarem recursos para outros usarem”, diz o Instituto Lixo Zero Brasil (ILZB), que representa no Brasil a ZWIA – Zero Waste International Alliance.
Recentemente, participei de um evento promovido pelo Capitalismo Consciente, onde a Diretora Administrativa do Grupo Morena, justamente compartilhou entre tantos assuntos e experiências como a empresa avançou na educação e promoção do tratamento do lixo junto com os funcionários das propriedades do grupo situadas em Tangará da Serra e Campo Novo dos Parecis (MT). Dulce afirmou categoricamente “a educação é o único veículo que transforma as pessoas de dentro para fora.”
Independente do tamanho da sua empresa, é possível desenvolver novos produtos e serviços sustentáveis, adentrando mercados ainda pouco explorados e/ou encontrar novas formas de agregar valor aos seus produtos. Além disso, a eficiência energética e a redução de desperdício resultarão em uma economia de custos operacionais, o que certamente vai melhorar a rentabilidade e a competitividade da sua empresa.
Sustentabilidade não é uma pauta do futuro, por isso se faz necessário centrar esforços e investimentos em dois itens principais: novas tecnologias e treinamento de funcionários. Talvez você encontre resistência interna, sobretudo se a empresa estiver acostumada a operar o negócio de maneira tradicional. Nessa situação, a alta administração precisa ter um compromisso muito claro e forte em relação à agenda socioambiental.
A economia verde é um conceito adotado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) desde 2008. Segundo o órgão da ONU, significa uma economia que busca garantir a igualdade social e o bem-estar da humanidade aliada à diminuição dos problemas ecológicos e ambientais. Entre as características do empreendedorismo verde estão:
Baixa emissão de carbono e demais gases do efeito estufa, diminuição dos demais efeitos de impacto climático, eficiência na utilização de recursos naturais, inclusão social, reciclagem e reutilização de bens, uso de energias limpas e renováveis, valorização da biodiversidade presente nos ecossistemas, consumo consciente, adoção de práticas mais sustentáveis nos processos produtivos, universalização do saneamento básico e cuidado com os recursos hídricos (água).
Quando vivemos o legado, nos preocupamos com o que vamos deixar, entregar melhor para quem está por vir. Agir no presente, pensando no futuro. “Uma jornada consciente começa por líderes que decidem tornar seus negócios melhores para o mundo”, essa frase do Capitalismo Consciente nos chama a responsabilidade. Como sua consciência social está impactando em sua família, em sua empresa, em seu entorno?
Cristhiane Brandão, Conselheira de Administração, Consultora em Governança para Empresas Familiares e Coordenadora do Capítulo Brasília/Centro Oeste do IBGC.
Metas ESG: da teoria à prática pelas empresas
A ideia para o tema deste mês veio de uma experiência extraordinária de benchmarking que vivemos (eu e o meu time) em empresas de São Paulo com as melhores práticas de diversidade do mercado. Uma das frases que me marcou é do ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que diz assim:
“Diversidade é convidar todo mundo para a festa, inclusão é convidar as pessoas para dançar”. Isso significa que não basta preencher critérios dizendo que há negros, índios, idosos ou gays na empresa, é fundamental trabalhar inclusão desde os donos, sócios e membros do conselho até os demais funcionários, fazer parte do dia a dia e da cultura da organização.
Sei que muito se tem debatido nos últimos anos sobre os três pilares do ESG (ambiental, social e governança). Mas a sigla ainda deixa uma lacuna entre teoria e prática nos players brasileiros, como foi apontado pela pesquisa “Retrato da Sustentabilidade no Mercado de Capitais”, realizada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, em 2021.
O panorama reconheceu cinco padrões de comportamento com base no posicionamento e compreensão do tema: desconfiado (4,2%), distante (35,5%), iniciado (32,1%), emergente (21,5%) e engajado (6,8%). A maioria do mercado enxerga o “S” de sustentabilidade como relevante (85%), mas apenas 26% das gestoras e 43% dos bancos incluem esse tema em seus códigos de conduta.
Voltando à visita que fizemos às empresas referências (Fin4She, Scania, ThoughtWorks, Serh1 Consultoria e Copag) em melhores práticas, foi um movimento importante que potencializou nossa certeza sobre a importância de trabalhar as metas ESG. A preocupação genuína em crescer com essas causas – na igualdade de oportunidades, nos espaços, nas pluralidades, no respeito – transformam positivamente o negócio dentro e fora!
“Ser livre é conseguir flutuar entre a diversidade e a multiplicidade, sem perder a própria identidade”, afirma o médico e escritor Dimos Iksilara. É fácil falar, mas difícil colocar em prática, será? Pensando nisso observamos como essas empresas estruturaram suas metas e método de trabalho. A primeira observação é de que, embora passem pelo RH, as grandes ações são realizadas por um comitê de diversidade.
Esse comitê de diversidade normalmente é composto por pessoas, independente do cargo, o que abre oportunidade para que todos que tenham afinidade possam trabalhar as pautas (aumentando o engajamento). Outro ponto percebido é que há muitas lideranças femininas contribuindo no processo, mesmo em algumas empresas onde o desafio é maior, como a Scania, cujo meio é mais masculino por causa da mão de obra oriunda das Engenharias.
Outros alicerces que essas empresas usam para potencializar as transformações – e incorporar as metas ESG – são “educação” e “criatividade”, que proporcionam “molas de movimento” dentro das empresas. Trabalhar a sustentabilidade requer a transversalidade de ações e capacitação contínua com o objetivo de transformar vidas, hábitos, promover mudanças reais e sucessivas. Não é sobre dar tapinha nas costas e dizer que se importa, é sobre “convidar para dançar”.
Afinal, qual a importância da sigla ESG? O primeiro impacto é no próprio mercado, já que a maioria dos investidores globais – mais de 70% – já vem aplicando indicadores ESG em pelo menos um quarto dos seus investimentos totais. A lista é crescente e os investidores estão cientes de que todas essas questões influenciam no valor de mercado e na avaliação de uma empresa.
O segundo impacto é quanto aos consumidores que na hora de escolher um chocolate, por exemplo, já levam em consideração toda a sua fabricação, desde a agricultura do cacau, passando pela qualidade de vida do produtor, a questão ambiental da produção e se há ou não trabalho escravo ou infantil no processo. Um exemplo recente neste quesito envolveu vinícolas no Rio Grande do Sul.
Por fim, existe a repercussão entre os trabalhadores que querem que suas companhias tenham responsabilidade social em suas decisões em curto e longo prazo. É importante frisar que colaboradores satisfeitos possuem o dobro de chances de permanecer em uma empresa por pelo menos cinco anos, comparados àqueles que trabalham apenas pelo pagamento.
Olhar para essas questões de maneira prática, visitando empresas que são referência, nos fez pensar sobre a capacidade de transformação da sociedade a partir das empresas. Também nos afetou com um “senso de urgência”, já que muitas delas vão precisar se “reposicionar” nesse contexto urgentemente. Ao contrário do que achávamos, não são mais metas para um futuro distante, elas são do presente.
Não há mais desculpas para o dever de casa não estar sendo feito. O papel da Governança nesse contexto é estimular a proatividade a partir de um futuro desenhado com ações no “aqui-agora”. É trabalhar para envolver clientes, funcionários, fornecedores, comunidades e governos locais. Como esse trabalho é uma via de mão dupla, todas as partes envolvidas ganham.
Cristhiane Brandão, Conselheira de Administração, Consultora em Governança para Empresas Familiares e Coordenadora do Capítulo Brasília/Centro Oeste do IBGC.
O impacto positivo da mulher na Governança
Há uma frase do filósofo alemão Arthur Schopenhauer que diz que “a mulher é um efeito deslumbrante da natureza”. Na Governança Familiar não seria diferente, já que intuitivamente costumamos atuar em vários papéis de maneira incansável para promover o bem-estar da família e da empresa, o que habitualmente é chamada de “Governança invisível”.
Embora desempenhamos funções importantes e com excelentes resultados, ainda há muito que se trilhar no que se refere a igualdade de oportunidades e reconhecimento por esse trabalho. Essa é pauta impulsionada pelo ESG (Environmental, Social and Governance) que vem sendo mais priorizada inclusive por movimentos globais, como a Agenda 2030 construída na Assembleia Geral das Nações Unidas. Em apoio, a ONU Mulheres lançou a iniciativa global “Por um planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela igualdade de gênero”, com compromissos concretos assumidos por mais de 90 países.
Se analisarmos os dados dos últimos oito anos, vamos ver que houve uma evolução: o número de mulheres que ocupam cadeiras nos conselhos de companhias abertas cresceu de 3% para quase 18%, segundo um estudo da Global Board Diversity Tracker, da Egon Zehnder (2022). Isso se deve a uma série de esforços, entre os quais destaco o IBGC na implantação do precursor Programa Diversidade em Conselho (PDeC), desde 2014; e a Saint Paul Escola de Negócios, com o Advanced Boardroom Program for Women – ABP-W, um programa de formação de conselheiras, que é tutorado por Chris Aché, que já tem mais 400 executivas preparadas para ingressar nos conselhos (sou uma delas!).
A representação importa, mas a inclusão é o próximo passo. Ainda temos muito chão pela frente e talvez o primeiro passo seja em relação ao próprio conhecimento, afinal, com os diversos papéis que desempenhamos como temos lapidado nossas competências? Estamos sendo preparadas para ocupar espaços como sócia, conselheiras, auditoras, executivas (diretoras), Governance officers e membros de comitês de assessoramento?
Por se tratar de um processo, muitas vezes acabamos assumindo papéis na Governança com as quais temos mais habilidade, entre eles, impulsionar e encorajar indivíduos e equipes, além de buscar novas oportunidades de negócios, identificar oportunidades e tomar decisões. O perigo é que sejamos reconhecidas somente como “cuidadoras”.
O relato recente de Gabriela Baumgart, presidente do conselho de administração do IBGC, mostra que é preciso coragem para abrir caminho e efetivamente se sentar na cadeira: “Hoje, tenho a felicidade de ter companheiras mulheres, seja em conselhos ou outras atividades exercidas. (…) O caminho é longo, mas posso dizer que é uma alegria poder participar deste movimento de diversidade e inspirar outras mulheres”.
Outro exemplo que destaco como liderança feminina é Solange Cruz Bichara, presidente da escola Mocidade Alegre, que estava há mais de nove anos sem receber o título, e se tornou a campeã do carnaval de São Paulo deste ano. O resultado se deve ao trabalho profícuo realizado por ela, que já recebeu o título de campeã do desfile de São Paulo outras seis vezes, e usou todo seu conhecimento em administração na escola de samba. Achei a história fantástica!
Neste mês de março, em que celebramos o Dia da Mulher, precisamos debater as questões de empoderamento feminino além do aspecto superficial. O cerne não é colocar mulheres para ocuparem “espaços masculinos”, mas construir uma cultura – dentro da empresa e da família – onde esse poder possa ser compartilhado e multifacetado, ou seja, tenha matriz masculina e feminina, levando em consideração o conjunto de habilidades e características inerentes a cada um, só assim teremos o exercício da liderança realizado por homens e mulheres sem distinção ou discriminação.
O grande desafio sem dúvida é criar esse ambiente diverso e inclusivo para que nós, mulheres (e qualquer membro da família), possamos exercer sua plena potência como líderes, sejam nos negócios ou na Governança Corporativa e Familiar. Para isso, é importante abrir espaço genuíno para que inicialmente possamos mostrar nosso ponto de vista, tenhamos desafios reais e vejamos nossas conquistas reconhecidas. Só assim poderemos avançar.
Não existe um único caminho possível, por esse motivo, desenvolver um ambiente em que se possa demonstrar a própria vulnerabilidade e gerar conexões verdadeiras por meio de diálogo e feedbacks será essencial. Sempre descrevo esse “novo caminho” como uma jornada rumo à diversidade.
Como toda transformação, exige tempo e muito esforço de todos os envolvidos. Mas a dedicação também será catalisadora de importantes promotores de integração, união e diálogo na família empresária. Ingredientes como esse fortalecem valores e a longevidade do seu negócio! Parabéns, mulheres! Vamos avançar juntas!
Cristhiane Brandão, Conselheira de Administração, Consultora em Governança para Empresas Familiares e Coordenadora do Capítulo Brasília/Centro Oeste do IBGC.
Como a diversidade pode impactar positivamente seu negócio
Vamos falar sobre a diversidade? Mesmo que para algumas empresas o tema da diversidade ainda desponte muito longe no horizonte, essa pauta ganha força, voz e representatividade diariamente.
A diversidade não pode ser encarada como um ato de ideologia ou posicionamento político, portanto, quando falamos em diversidade precisamos pensar na amplidão desse universo que está muito além das fronteiras raciais ou de gênero.
O artigo 5º da Constituição Federal de 1988 versa – como que em poesia – os ideais da nossa sociedade: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança…”
Enquanto empresários e famílias empresárias, temos a possibilidade de viabilizar essa inclusão, por meio do acesso ao trabalho digno, humanizando na individualidade, nas relações e nas atividades internas de nossos negócios.
Precisamos construir um ambiente sem estereótipos e classificações preconcebidas, substituindo muros, etiquetas, rótulos e caixinhas, que limitam a capacidade intelectual e produtiva dos indivíduos, por “pontes” que nos conectam cada vez uns com os outros e nos ligam a um mundo globalizado e plural.
Nasce, assim, uma nova forma de produção pautada na entrega de valores: o ESG, uma sigla em inglês que significa “environmental, social and governance”. O termo é usado para medir as práticas ambientais, sociais e de governança da empresa. Hoje, uma empresa não precisa mais optar por ter bons resultados financeiros ou construir um mundo mais sustentável, deve integrar as possibilidades.
Quando buscamos diminuir os seus impactos no meio ambiente, melhorar os processos de administração e construir um mundo mais responsável e igualitário para a sociedade, o nosso negócio tende a conseguir os melhores resultados com o passar do tempo. É importante destacar que os cidadãos-consumidores estão cada vez mais conscientes e exigentes em relação às boas práticas empresariais.
Pense nisso: quando e como a sua empresa pode criar esses espaços? Quais projetos e ações voltados à diversidade já são possíveis de serem implantados ou, se já existem, como ampliá-los ou fortalecê-los?
Lembrando que o tema diversidade compreende: ideias, raças, gênero e idade. Um bom ponto de partida é olhar para os dados que refletem a diversidade, muitas vezes temos a impressão de que não há problemas, mas os números podem falar por si. Além, é claro, de envolver o alto escalão e as lideranças táticas para debater sobre os temas.
Um conceito muito importante que pode entrar no debate é a respeito dos vieses inconscientes, “o lado oculto de como percebemos o mundo” ou, conceitualmente, preconceitos incorporados no nosso dia a dia e que estão baseados em estereótipos de gênero, raça, classe, orientação sexual, idade, etc.
Neste mês em que celebramos, no dia 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra (e este pode ser um bom exemplo de ação voltada à diversidade), como podemos avaliar esta temática na nossa empresa e no ciclo social o qual estamos inseridos? Quantos negros e/ou afrodescendentes trabalham conosco, sobretudo em cargos de liderança? Quantos amigos negros nós temos? Essas são perguntas pertinentes para o desenvolvimento de um projeto ou ação.
A visão de diversidade possui outros vieses, entre eles, podemos destacar alguns que ainda pesam muito durante o processo da governança, como o paradigma de que “o homem é o sucessor natural” e que, portanto, uma mulher não poderia comandar um negócio (inclusive no agro!). Mesmo que o tema empoderamento feminino esteja amplamente difundido, por que elas costumam enfrentar dificuldades gigantescas para ascender aos cargos mais altos?
Outro preconceito frequente diz respeito à idade, quando falamos que partir de 40 anos “estamos velhos” para estudar e/ou iniciar novos projetos ou, pior, com “falta energia para trabalhar” a partir dos 50 anos (como assim?!). Embora o IBGE mostre que a expectativa de vida do brasileiro está em torno de 72,7 anos, e entre as mulheres já passa dos 80 anos, por que pessoas com 60 anos ou mais são vistas como cidadãos “no fim do túnel”?
São tantas questões para serem “olhadas” e ressignificadas no âmbito do negócio que o mais importante é começar agora da melhor forma que conseguirmos e guiados por esta frase inspiradora do ex-presidente e grande líder da África do Sul, Nelson Mandela: “Você alcançará mais nesse mundo por meio de atos de compaixão do que por atos de retaliação”. Ganha a empresa, ganha a sociedade e, principalmente, ganham as futuras gerações que viverão em um mundo mais inclusivo!
Cristhiane Brandão, Conselheira de Administração, Consultora em Governança & Especialista em Empresas Familiares
Fatores emocionais impactam sucessão familiar
O processo de sucessão talvez seja a parte mais visível da complexidade de uma empresa familiar, porque envolve emoções, vínculos familiares, planejamento, pactos e uma grande consciência por parte do sucedido e do sucessor. Não se trata, portanto, de um evento isolado e precisa ser construído com suas características próprias que não têm um padrão ou fórmula pronta.
Uma pesquisa feita por Elizabeth Kübler-Ross, em 1969, pode ser facilmente aplicada em um processo de sucessão. A autora descreve cinco estágios pelas quais as pessoas passam ao lidar com situações de perda, luto ou tragédia: negação e alívio da raiva, negociação/barganha, depressão, e, por último, aceitação. Em um processo de sucessão algo similar acontece, pois significa o fim para uma etapa da vida e o começo para a outra.
No decorrer do processo de sucessão, notam-se vários sinais, principalmente no fundador, como inquietação, preocupação, raiva, que pode ser alternado por alívio, negação, barganha e depressão. Mas, quando bem trabalhada, essa espiral emocional pode moldar um caminho saudável até a nova situação, com aceitação, comprometimento e envolvimento, que reflete no crescimento da família empresária.
Quem passa o bastão, apesar de estar certo da sua decisão, geralmente é tomado por um estado de choque ao anunciar seu sucessor. Ao mesmo tempo em que adota em seu discurso que ‘não tem mais pique para tocar a organização’, é comum agir como se a transição efetiva ainda estivesse longe de acontecer.
Temos que admitir que dificilmente alguém ficaria feliz em deixar de fazer um conjunto de coisas sobre as quais tem domínio e controle. A situação se torna ainda mais complexa quando a pessoa ainda não encontrou um novo projeto de vida a partir daquele momento e a sensação ao olhar para futuro é de muito medo.
Medo gera raiva, inicialmente, de si mesmo por ter se colocado nessa situação ou ainda da família pela tensão da situação. Também é comum querer barganhar: ‘Tenho que ficar pelo menos mais seis meses na empresa porque meu filho ainda não está pronto’. E assim vai ficando, sempre com a justificativa de que o sucessor precisa de mais segurança.
Quando o sucedido percebe que não reverterá a situação, a tendência é que ele se deprima ou desmotive. Então, ter auxílio de profissionais que ajudem a tornar o cenário mais claro emocionalmente facilita o processo para o sucedido e para o sucessor, de modo a ajudar a reverter os sentimentos negativos e criar um cenário positivo.
Para o fundador, tomar a atitude de sair da empresa não é uma decisão fácil, mas extremamente necessária. É inegável que será um processo dolorido e desgastante, porém, falar abertamente sobre o assunto e preparar-se para a saída, cuidando primeiramente de si próprio, tende a tornar esse momento mais natural e saudável, tanto para o profissional como para a organização.
A não consciência sobre esse quadro pode representar o fracasso da transição. Para que a mudança seja efetiva, a pessoa que será sucedida – seja ela o fundador, um herdeiro ou um executivo de mercado – terá de seguir algumas condições básicas, entre elas, assumir o compromisso de planejar, propor e cumprir etapas do processo de sucessão. Ele deve, acima de tudo, transmitir valores, visão e estratégia da empresa, o tripé fundamental para a construção de um negócio sustentável em longo prazo.
Nas empresas familiares há muito conhecimento escondido na cabeça do dono, muita expertise e redes de relacionamentos construídas sobre o negócio, e que geralmente são sensíveis e informais. Então, é importante que tudo isso seja compartilhado com o novo gestor, o que precisa estar disponível para ouvir.
Diante da complexidade, encontrar parceiros de confiança durante esse período é fundamental. Desde que o profissional esteja aberto para receber feedback, um especialista pode exercer esse papel, organizando e motivando todo o processo, sempre respeitando o profissional como líder. Como tudo isso envolve um longo período, meu convite é: que tal se planejar o quanto antes?
Cristhiane Brandão – Conselheira de Administração em Formação, Consultora em Governança & Especialista em Empresas Familiares. Sócia fundadora da Brandão Governança, Conexão e Pessoas