O impacto positivo da mulher na Governança

Há uma frase do filósofo alemão Arthur Schopenhauer que diz que “a mulher é um efeito deslumbrante da natureza”. Na Governança Familiar não seria diferente, já que intuitivamente costumamos atuar em vários papéis de maneira incansável para promover o bem-estar da família e da empresa, o que habitualmente é chamada de “Governança invisível”.

Embora desempenhamos funções importantes e com excelentes resultados, ainda há muito que se trilhar no que se refere a igualdade de oportunidades e reconhecimento por esse trabalho. Essa é pauta impulsionada pelo ESG (Environmental, Social and Governance) que vem sendo mais priorizada inclusive por movimentos globais, como a Agenda 2030 construída na Assembleia Geral das Nações Unidas. Em apoio, a ONU Mulheres lançou a iniciativa global “Por um planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela igualdade de gênero”, com compromissos concretos assumidos por mais de 90 países.

Se analisarmos os dados dos últimos oito anos, vamos ver que houve uma evolução: o número de mulheres que ocupam cadeiras nos conselhos de companhias abertas cresceu de 3% para quase 18%, segundo um estudo da Global Board Diversity Tracker, da Egon Zehnder (2022). Isso se deve a uma série de esforços, entre os quais destaco o IBGC na implantação do precursor Programa Diversidade em Conselho (PDeC), desde 2014; e a Saint Paul Escola de Negócios, com o Advanced Boardroom Program for Women – ABP-W, um programa de formação de conselheiras, que é tutorado por Chris Aché, que já tem mais 400 executivas preparadas para ingressar nos conselhos (sou uma delas!).

A representação importa, mas a inclusão é o próximo passo. Ainda temos muito chão pela frente e talvez o primeiro passo seja em relação ao próprio conhecimento, afinal, com os diversos papéis que desempenhamos como temos lapidado nossas competências? Estamos sendo preparadas para ocupar espaços como sócia, conselheiras, auditoras, executivas (diretoras), Governance officers e membros de comitês de assessoramento?

Por se tratar de um processo, muitas vezes acabamos assumindo papéis na Governança com as quais temos mais habilidade, entre eles, impulsionar e encorajar indivíduos e equipes, além de buscar novas oportunidades de negócios, identificar oportunidades e tomar decisões. O perigo é que sejamos reconhecidas somente como “cuidadoras”.

O relato recente de Gabriela Baumgart, presidente do conselho de administração do IBGC, mostra que é preciso coragem para abrir caminho e efetivamente se sentar na cadeira: “Hoje, tenho a felicidade de ter companheiras mulheres, seja em conselhos ou outras atividades exercidas. (…) O caminho é longo, mas posso dizer que é uma alegria poder participar deste movimento de diversidade e inspirar outras mulheres”.

Outro exemplo que destaco como liderança feminina é Solange Cruz Bichara, presidente da escola Mocidade Alegre, que estava há mais de nove anos sem receber o título, e se tornou a campeã do carnaval de São Paulo deste ano. O resultado se deve ao trabalho profícuo realizado por ela, que já recebeu o título de campeã do desfile de São Paulo outras seis vezes, e usou todo seu conhecimento em administração na escola de samba. Achei a história fantástica!

Neste mês de março, em que celebramos o Dia da Mulher, precisamos debater as questões de empoderamento feminino além do aspecto superficial. O cerne não é colocar mulheres para ocuparem “espaços masculinos”, mas construir uma cultura – dentro da empresa e da família – onde esse poder possa ser compartilhado e multifacetado, ou seja, tenha matriz masculina e feminina, levando em consideração o conjunto de habilidades e características inerentes a cada um, só assim teremos o exercício da liderança realizado por homens e mulheres sem distinção ou discriminação.

O grande desafio sem dúvida é criar esse ambiente diverso e inclusivo para que nós, mulheres (e qualquer membro da família), possamos exercer sua plena potência como líderes, sejam nos negócios ou na Governança Corporativa e Familiar. Para isso, é importante abrir espaço genuíno para que inicialmente possamos mostrar nosso ponto de vista, tenhamos desafios reais e vejamos nossas conquistas reconhecidas. Só assim poderemos avançar.

Não existe um único caminho possível, por esse motivo, desenvolver um ambiente em que se possa demonstrar a própria vulnerabilidade e gerar conexões verdadeiras por meio de diálogo e feedbacks será essencial. Sempre descrevo esse “novo caminho” como uma jornada rumo à diversidade.

Como toda transformação, exige tempo e muito esforço de todos os envolvidos. Mas a dedicação também será catalisadora de importantes promotores de integração, união e diálogo na família empresária. Ingredientes como esse fortalecem valores e a longevidade do seu negócio! Parabéns, mulheres! Vamos avançar juntas!

Cristhiane Brandão, Conselheira de Administração, Consultora em Governança para Empresas Familiares e Coordenadora do Capítulo Brasília/Centro Oeste do IBGC.

Como o etarismo afeta a sociedade e as mulheres

O envelhecimento populacional é uma das mais significativas tendências mundiais do século 21. Nesse contexto de mudança e inversão na pirâmide etária, cresce a cada ano o número de pessoas com mais de 60 anos de idade no Brasil.

As projeções de longo prazo apontam para uma desaceleração no ritmo de crescimento. A expectativa é que, em 2100, o país ultrapasse 60 milhões de idosos, número superior a 40% de todos os brasileiros. Nesse contexto, as mulheres devem ser muito mais afetadas pelo envelhecimento.

Segundo o IBGE, elas vivem em média dez anos a mais. Enquanto a expectativa de vida dos homens é de 73 anos, a mulher brasileira vive até os 80 anos, com a tendência de se ampliar com os avanços da medicina. Então, frente a esse cenário, como se preparar? Do ponto de vista feminino, quais os desafios?

Para responder a esta e outras dúvidas, passei a estudar sobre o “etarismo”. Também cocriei um projeto profissional para abarcar o tema, pois percebia que não estava preparada, assim como pessoas próximas (homens e mulheres). Envelhecer não é fácil, nem simples em uma sociedade que valoriza excessivamente a juventude.

Um agravante entre os brasileiros é a falta de planejamento do futuro. Assim vamos vivendo apenas o momento presente e esquecemos das mudanças a partir dos 60 anos, a começar pelos nossos corpos, que se tornam mais lentos e exigem “desacelerar”. Até atravessar a rua pode ser perigoso!

Sim, nós precisamos falar sobre o etarismo ou ageísmo, que é um termo derivado da palavra aging, do inglês, que significa preconceito por idade e afeta todas as faixas etárias. No entanto, ele é mais acentuado entre os mais velhos em razão de estereótipos de que são desatualizados, desconectados e não acompanharam as mudanças.

Quem nunca ouviu: “você não tem mais idade para isso!”? Essa opinião pode ser considerada como etarismo. Falas como esta afetam muito mais mulheres do que homens, já que o envelhecimento feminino é visto de forma diferente. Um exemplo é que homens de cabelos brancos são tidos como “charmosos e maduros”, além de o grisalho conferir a eles “autoridade”.

Sei que há uma “revolução de grisalhos” acontecendo, mas uma mulher de cabelos brancos ainda é vista como “desleixada, velha e sem vaidade”. As atrizes Glória Pires e Andie MacDowell ou a jornalista Renata Vasconcelos já declararam ter abandonado as tinturas. Mas toda mudança gera desconforto e o que pesa para mulher que “se assume” ainda é uma imagem negativa.

Temos outros problemas a serem considerados pelo radar feminino. Como os homens costumam morrer primeiro, a mulher também precisa pensar a questão profissional e familiar após os 60 anos. Normalmente, quando não se planeja, ela acaba assumindo integralmente o “papel de avó”. Mas que preço paga em relação à realização pessoal e saúde?

É importante destacar que, nesta idade, ela já não possui energia ou mesmo disposição para o trabalho que crianças pequenas exigem. Ainda assim, é comum vê-la mais uma vez deixando de lado (e espera-se isso dela) a própria vida, como fez a vida toda pelos filhos e marido, para cumprir a nova função como cuidadora dos netos.

Outro dia eu li uma postagem nas redes sociais que me impactou. “Quando me tornei invisível” narra a experiência de uma mulher idosa: primeiro lhe tiraram da casa onde viveu a vida toda para ser colocada em um quartinho, nos fundos. Depois, venderam seus móveis antigos. Por fim, ela já não cabia mais no carro e não viajava com a família. Então a pergunta inocente do neto: “Está viva, avó?”

Sei que não é agradável falar sobre a velhice, porque ela nos parece muito mais próxima do fim da vida ou da morte. Mas precisamos nos preparar para este processo de envelhecimento e também preparar a sociedade, adaptar as nossas cidades (ruas, calçadas, transporte, hospitais e outros prédios públicos ou privados), além de ter produtos e serviços que levem em conta as características da idade avançada.

Parece algo bobo, mas outro dia uma amiga demorou para encontrar uma calcinha para a mãe, uma senhora de 80 anos. De tanto pensar, adotei a bandeira do etarismo na minha empresa e estamos trabalhando como projeto transversal, junto com o empoderamento feminino.

Acredito que todo grande desafio esconde uma oportunidade. Não tenho dúvida, vamos ser muito melhores se incorporarmos toda a sabedoria e experiência dos mais velhos – homens e mulheres – à nossa vida, ao mercado de trabalho e aos negócios.

Em relação às mulheres, penso que chegou o momento delas investirem em seus sonhos para não só conquistar “liberdade”, mas terem de fato visibilidade perante elas próprias, sua família e o mundo. Vamos à luta!

 

Cristhiane Brandão – Conselheira de Administração em Formação, Consultora em Governança & Especialista em Empresas Familiares. Sócia fundadora da Brandão Governança, Conexão e Pessoas.