As empresas de modo geral chegam ao fim do ano prontas para apresentar um balanço positivo de crescimento. Talvez você esteja fazendo isso neste momento, já que a atual sociedade é movida por uma lógica de crescimento infinito que necessita de números cada vez expressivos para validar o sucesso.
Deste modo, compartilhamos – no individual e no coletivo – dessa sensação de insatisfação constante que pode inclusive gerar adoecimento. Convido você a repensar se este modelo amplamente defendido e difundido de crescimento, desde a década de 1960, realmente é o que melhor atende à sociedade e ao planeta onde vivemos?
Ressignifiquei recentemente o conceito ESG (Environmental, Social and Governance) durante uma aula num curso do IBGC incorporando uma nova ótica ao pilar social, que precisa de um olhar estratégico que vá além da filantropia e inclua fornecedores, clientes, funcionários e a comunidade afetada pela empresa. O caso das Americanas serve para ilustrar a importância dessa “corresponsabilidade”.
O crescimento sustentável tem similaridade com a ideia de economia regenerativa debatida pela professora da Universidade de Oxford, Kate Raworth, autora do livro “Doughnut Economics: Seven Ways to Think Like a 21st-Century Economist” (Economia Rosquinha: Sete Formas de Pensar como um Economista do Século XXI), que utiliza o conceito “rosquinha” para ilustrar a importância de equilibrar as necessidades humanas essenciais sem ultrapassar os limites do planeta.
Foi importante conhecer a abordagem da Kate Raworth, que defende uma economia holística e sustentável que leve em consideração não apenas o crescimento econômico, como o bem-estar social e a saúde ambiental. Também como partes dos estudos que fiz como Conselheira, numa incursão a Espanha – Barcelona, onde pude ver inclusive visitando empresas locais, que inovação e ESG podem caminhar muito bem juntos.
Como agente de governança, tenho multiplicado esse conhecimento e experiências com minha equipe, clientes e parceiros, ajudando a ampliar a perspectiva sobre a necessidade certeira de “ter que crescer para sempre” em ritmo acelerado.
Como ficaria o tempo de “maturação” durante esses ciclos de expansão? A economista explica que, ao seguir essa lógica infinita de crescimento, a atual sociedade conseguiu desequilibrar sistemas habitáveis há 11 mil anos. “Sim, crescimento é fonte de vida saudável, mas nada na natureza nada cresce para sempre, o que acontece é que as coisas crescem e depois amadurecem, só assim podem prosperar por longo período”.
Saber fazer uso das novas tecnologias disponíveis e ampliar a criatividade são caminhos fundamentais para se chegar a novas respostas sobre o futuro. Nesse sentido, as empresas familiares precisam dedicar parte do seu tempo para a definição estratégica que enfatize ações de sustentabilidade e inovação, mas na perspectiva observada a partir da obra do arquiteto Antoni Gaudí.
Quando visitamos o Templo Expiatório da Sagrada Família, que representa a identidade da capital catalã, na Espanha, somos apresentados a uma obra-prima que ficou inacabada antes da morte de Gaudí e que levou à reflexão sobre este conceito de que nós, seres humanos, “somos obras inacabadas”. Portanto, ao trabalhar a Governança Familiar, é imprescindível incorporar a necessidade de busca permanente de equilíbrio “da rosquinha”, só assim prosperam os negócios, a família e a sociedade.
Voltando ao nosso balanço, 2023 foi um ano importante em que conseguimos avançar na consolidação da Governança Familiar e Corporativa entre as empresas mato-grossenses, o que contou com a realização do 1º Fórum de Governança para Empresas Familiares do IBGC – com apoio da Fiemt – e encontros temáticos da Brandão Governança, ambos com membros de famílias empresárias e/ou funcionários chave. A proposta é justamente essa, ajudar empresas familiares a se tornarem ESG, movimento que significa viver essa jornada única e transformadora que visa fortalecer a economia e construir um mundo melhor! Que 2024 chegue com mais consciência da nossa parte…
Cristhiane Brandão, Conselheira de Administração, Consultora em Governança para Empresas Familiares e Coordenadora do Capítulo Brasília/Centro Oeste do IBGC.