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ARTIGOS

O que aprender com a tragédia no Rio Grande do Sul?

3 de junho de 2024

Na maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul, ao menos 171 pessoas perderam a vida e 2,34 milhões foram afetadas direta ou indiretamente em pelo menos 475 municípios atingidos, entre elas, 37,8 mil estão alojadas em abrigos, segundo informações da Agência Brasil. Como profissional que atua com Governança, quero abrir espaço para algumas reflexões.

Obviamente, neste momento de sofrimento e incertezas, temos colhido lições valiosas de solidariedade e cooperação, que conseguiram ultrapassar as barreiras políticas dos últimos anos e que tinham dividido o Brasil entre norte e sul, direita e esquerda, cristãos e não cristãos. Tudo isso já representa um avanço para a reconstrução não só do estado gaúcho, como do próprio país.

Nesta semana em que celebramos o Dia do Meio Ambiente, quero deixar algumas questões que considero fundamentais para o despertar da consciência: Você, em algum momento, refletiu sobre os efeitos do nosso atual padrão de consumo nas mudanças climáticas? Como empresário, desenvolve ações que visam incorporar melhores práticas de gestão voltadas ao meio ambiente, à responsabilidade social e à diversidade?

A humanidade já realizou muitos feitos extraordinários e se considera superior em relação às demais espécies. Mas será que esse “capitalismo fóssil” não tem colocado um sobrepeso insustentável dos recursos e equilíbrio do planeta? Temos recebido muitos sinais da natureza e da sociedade de que ainda há muito a se fazer…

Falar em ESG é, sim, extremamente necessário para destacar a importância e a urgência na mudança de “mentalidade” de todos nós, empresários, consumidores, gestores públicos, políticos, educadores, enfim, todo conjunto da sociedade, para as transformações estruturais nas diversas áreas e que vão garantir a manutenção não só dos negócios e da renda das famílias, como da vida no planeta!

A sigla em inglês diz Environmental, Social and Governance, ou Ambiental, Social e Governança (em português) consiste em um conjunto de critérios que avalia o desempenho das organizações em relação à sustentabilidade e à responsabilidade social. O “E” do ESG traz para os negócios a preocupação ambiental, avaliando o impacto que a empresa gera no meio ambiente e a sustentabilidade de suas operações em alinhamento com metas globais.

Quando colocamos nesse contexto as empresas familiares, de modo geral, podemos dizer que o ESG estabelece uma forte relação com o legado e a finalidade das famílias empresárias, o que sem dúvida significa uma vantagem competitiva. Inevitavelmente, as famílias desenvolvem uma visão de longo prazo e se preocupam em perpetuar o legado social. Outro ponto relevante é que diversidade e sustentabilidade são mais valorizadas pelas novas gerações de herdeiros, o que poderá gerar conflitos que, se não forem trabalhados, poderão impactar o negócio.

Quando focamos no “remédio” sustentabilidade, estamos na busca do equilíbrio entre o suprimento das necessidades humanas e a preservação dos recursos naturais, não comprometendo as próximas gerações e atentando ao tripé econômico, social e ambiental. E essa abordagem não deve ser segmentada, e sim, sistêmica e com perspectiva intergeracional.

Precisamos urgentemente estudar e aprofundar uma nova ética da vida na Terra: “uma ética de amor à vida em todas as suas formas existentes”, como propõe Miguel Setas, em seu livro “Gigante pela própria natureza”. Inevitavelmente, isso nos confronta ao paradoxo de ter um modelo de desenvolvimento galgado na expansão contínua e “infinita” dos negócios e do crescimento econômico sem ligação à natureza como algo muito perigoso.

Ao analisar dados, observamos que a sociedade entende a importância desse movimento. Um levantamento realizado, em 2022, pela consultoria Grant Thornton, com 255 empresas brasileiras, constatou que 95% dos empresários consideravam importante reduzir a emissão de gás carbônico, gerar energia limpa e adotar esforços contra o desmatamento, porém, apenas 54% delas pretendiam investir em projetos ligados à ESG nos próximos 12 meses; e somente 39% tinham plano estratégico com abordagem ambiental, social e de governança.

Outro estudo feito pela consultoria Korn Ferry (Tendências de RH 2023), divulgado no ano passado, obteve resultados similares, mostrando que 67% das empresas no Brasil adotaram o ESG como pilar estratégico, enquanto 33% ainda não o fizeram. Também observaram que 75% das empresas planejavam colocar em prática ações ESG nos próximos 12 a 18 meses, enquanto 25% não tinham essa intenção.

Voltando ao Rio Grande do Sul, me deparei com opiniões de especialistas mostrando que os eventos climáticos extremos, intensificados pelo fenômeno El Niño, como ondas de calor e chuvas fortes, têm sido frequentes no sul do país, e que houve uma série deles nos últimos meses e anos. Inclusive, uma grande enchente aconteceu em setembro de 2023 como prenúncio da catástrofe deste ano, mas, mesmo com a água batendo (literalmente) à porta, nada foi feito.

Sou uma “realista esperançosa”, acredito que temos conhecimento, recursos e tecnologia suficientes para mudar a rota do planeta e da humanidade. Por isso, neste 5 de junho, dê um presente para seu futuro e dos seus, comece com ações pequenas em casa e na empresa que foquem em mudar a forma de pensar, sentir e fazer negócios! Avante!

Cristhiane Brandão, Conselheira de Administração, Consultora em Governança para Empresas Familiares e Coordenadora do Capítulo Brasília/Centro Oeste do IBGC.